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Carta aberta ao RH

Leonardo Leonardo Siga Apr 12, 2020 · 9 minutos de leitura
Carta aberta ao RH
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Depois de muito tempo estando desempregado, hoje posso dizer que minha hora chegou e fui recolocado. Confesso, é uma missão ingrata, difícil, quase insuportável, e por que não dizer insatisfatória? É, mais do que nunca, uma luta com a sua autoestima, seus valores e princípios, de saber até onde você vai, se molda ao meio e muda para conquistar a tão sonhada vaga.

Não digo que é fácil, pois não é, nem de longe. Aliás, papo coach nunca foi minha praia (“você é capaz de tudo, basta correr atrás dos seus sonhos”, “seu maior fracasso é menor que seu maior sonho”, dentre outras frases). De verdade, meu sonho era ter nascido rico, mas não deu.

Nos últimos 19 meses, apliquei para diversas vagas de emprego na área de TI, sendo a maioria esmagadora para programação e desenvolvimento de software. Teoricamente, essa é uma área que não há falta de emprego, e qualquer pessoa pode entrar facilmente, ainda mais se for considerado o déficit de 25 mil profissionais na área em 2019. Pena que é apenas teoria e sonho, já que a realidade não se mostra factível.

Após um longo período trabalhando como instrutor de treinamento na Atento (e, portanto, subordinando à diretoria de RH), havia entendido que chegado o momento de alçar novos voos e comecei a me candidatar a vagas na área de TI. Grande parte das candidaturas foram direcionadas para empresas GPTW, das quais se espera que tenham processos de negócio e estruturas adequadas para processos seletivos adequados. Não consegui realizar essa mudança de carreira e, por uma decisão de negócio, optou-se pelo meu desligamento em julho/2019.

De onde eu tirei esse pensamento? Da minha estadia na Atento, que à época em que lá estive, foi certificada diversas vezes como empresa GPTW. Não que não haja espaço para melhorias, todas as empresas têm. Mas uma coisa posso afirmar categoricamente: a Atento possui processos bem definidos e que funcionam, pelo menos em se tratando de processos seletivos.

Pois bem. Como disse anteriormente, foram mais de 19 meses, e agora, finalmente recolocado, me sinto no dever de publicar os dados sobre minhas candidaturas, com as respectivas taxas percentuais.

FASE QUANT. PERCENTUAL FÓRMULA UTILIZADA
Currículos enviados 400
Retorno negativo (análise de currículo) 73 18,25% Retorno negativo/currículos enviados
Entrevista agendada 16 4,00% Entrevista agendada/currículos enviados
Resposta da entrevista 10 62,50% Resp. de entrevista/entrevista agendada
Soma dos retornos (retorno negativo + resposta de entrevista) 83 20,75% Retorno negativo + resposta da entrevista
Propostas de trabalho 1 0,25% Prop. de trabalho/currículos enviados
Feedback efetivo sobre o retorno negativo 5 6,02% Feedbacks recebidos/soma dos retornos negativos

Neste ponto, talvez você queira me perguntar, “mas você solicitou feedback às empresas”? E a resposta foi sim. Para todas que me forneceram um meio de contato, entrei em contato (4 empresas, no total). Nenhuma falou o motivo.

A minha maior surpresa foi a de descobrir que justamente as empresas GPTW, que, teoricamente, possuem processos de negócio bem estruturados e uma equipe apta a fornecer esse tipo de feedback. Mas foram as startups que me disseram onde falhei e como poderia melhorar. Pensava eu que, justamente por serem startups e terem que acelerar e escalar seus modelos de negócios, eu não teria uma resposta mais assertiva. Ledo engano.

Uma das respostas que recebi, de uma grande consultoria de SP (que tem selo de GPTW de TI para SP), para um processo de trainee, foi “você foi bom, mas não podemos contratar todo mundo”. Sério? Os pontos a desenvolver e melhorar são “não ser todo mundo” e “ser melhor”?

Mas minha crítica não é para a empresa A ou B (minha ética não me permitiria citar, ainda que em conversas privadas, o nome destas). Quero aqui fazer uma crítica à cultura do “aqui as pessoas as pessoas são o nosso maior bem”.

Em período de pandemia de covid-19, é bem fácil entender que os processos seletivos sejam estagnados, vagas congeladas e empresas parando suas atividades. No entanto, não foi este o cenário pregresso.

Ter certificações nacionais e internacionais, nota alta no Glassdoor e assemelhados, divulgar números de pesquisa interna, postar fotos e depoimentos de funcionários no LinkedIn ou apresentar publicamente o Culture Code… Nada disso faz sentido ou tem valor se sua empresa não cuida das pessoas (as que estão dentro e as que querem entrar). Isso se chama Responsabilidade Social e Corporativa.

Aliás, certificações e selos de excelência são baseados em auditorias, em áreas que sabem que serão auditadas, o que dá a chance de alinhar previamente processos para ficar em conformidade com a norma pelo qual será auditado. Isso ocorre, também, na pesquisa para receber o GPTW, em que funcionários são aleatoriamente escolhidos para responder a pesquisa.

Estou dizendo, então, que os processos de certificação são falhos? De jeito nenhum! Estou afirmando, isso sim, que as empresas precisam manter alinhados seus processos internos, principalmente os de seleção e recrutamento, com as normas para as quais são certificadas. Sem isso, será apenas mais um papel emoldurado, pendurado na parede de prêmios, que fazem o custo de seus produtos e serviços aumentarem, sem gerar valor real.

Também não adianta alardear que tem um RH Digital (vou falar sobre transformação digital em outro artigo), que passou por transformação digital, que agora é uma empresa do presente e preparada para o futuro, “apoiar” o ecossistema de startups, se as pessoas não são o foco. Ser uma empresa digital vai muito além de sistemas e computadores.

Eu sei: não é fácil resolver questões de cultura corporativa. Afinal, é a cultura corporativa que faz a empresa ser quem ela é. Mas será que esta mesma cultura não está destruindo sua empresa, sem que você perceba?

Ainda que seja um e-mail automático, diga às pessoas que elas não passaram em um processo. Tire delas o peso das costas de não se aplicar ou aceitar outra proposta porque prefere você e está esperando uma resposta sua.

Se sua empresa vai descartar o currículo, não diga no e-mail que vocês gostaram do perfil, guardaram o currículo, porém não o consideram para próximas vagas. Diga a verdade! Nós, do lado de cá do balcão de atendimento do RH, não queremos nada além de uma resposta verdadeira e coerente, ainda que dura e, aparentemente, ‘insensível’.

Se eu puder deixar uma mensagem, dentre tudo o que você leu até aqui, eu diria: CUIDE DAS PESSOAS. Sem pessoas, não há empresas. Trate-as como você gostaria de ser tratado: com transparência, com informação e com o extremo respeito que todos, sem exceção, merecem ter.

As pessoas são o centro da operação de qualquer empresa. Do chão de fábrica aos cargos mais altos, uma empresa é feita de pessoas. Sem elas, a empresa não opera e não vai para frente. Cuide delas, pois delas vem maiores lucros; o marketing e endomarketing positivo; um excelente customer experience (CX); insights de melhorias dos produtos e serviços; ideias que geram valor para o negócio; melhorias de performance, estrutura e processos de negócio, dentre outros.

Se por um lado faço uma crítica à forma de condução dos processos seletivos de algumas empresas, ainda que sem nominá-las, não, de maneira alguma, deixar de elogiar e citar as que fizeram meu dia feliz (mesmo que tenham me dado uma resposta que eu não gostaria de receber).

São as empresas Vizir, Teravoz (agora Twilio Brasil), Avanade, Gama Academy e Espaço Santista RH (em uma vaga confidencial). Eu não conheço o ambiente de trabalho delas, não sei como são seus processos internos. Mas vocês cuidaram de mim, me mostrando o porquê eu não poderia me juntar à equipe naquele momento e fornecendo insumos para me desenvolver ainda mais.

Por fim, mas não menos importante, agradecer à Digital House, empresa que passo a integrar a partir desta segunda-feira, 13/04, no cargo de Instrutor Front-end Jr. Agradecer por confiar em um desenvolvedor Jr.; por acreditar em mim e no meu potencial; e acima de tudo, por realizar a minha contratação, no meio de um cenário econômico e sanitário extremamente adverso (os quais me fez acreditar que poderia ser contatado novamente, somente após o fim da quarentena/pandemia).

A você que está na luta por uma recolocação: não desista. Eu sei o quanto dói a dor da espera. Mas nada é para sempre, em breve, com fé, você será recolocado no mercado de trabalho.

Deixe abaixo o seu comentário e vamos debater mais esse assunto!


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Leonardo
Escrito por Leonardo Siga
Léo é desenvolvedor PHP e C#, tem 24 anos, mora no Guarujá e não vai à praia todo dia (apesar de acreditar que apenas ver o mar já é suficiente para fazê-lo relaxar).